Qaundo acordei, demorei a perceber onde estava. Demorou alguns segundos até reconhecer o cockpit do sheriffmobile. O sinal de modo de economia activado indicava que tinha adormecido com o a bateria do bólide a trabalhar. Talvez para ouvir música. Ou para manter a luz acesa. O esforço possível não me permitia recordar porque estava ali. As migalhas no meu colo davam uma pista. Pelo menos saciei a minha fome. Estaria estado sempre sozinho? Acredito que sim. Ultimamente não tenho convivido com pessoas capazes de me abandonar. O mesmo será dizer que passo muito mais tempo sozinho. Aos poucos, na mesma medida que o calor se tornava insuportável, encarei a realidade. Rodei a chave, o motor roncou. Consegui finalmente localizar-me no tempo. 12:00! Só podia ser Sábado. Em nenhum outro dia da semana me poderia dar ao luxo de não saber onde estava ao meio dia. Faltava localizar-me no espaço. Quando ergui os olhos para o horizonte o espanto não poderia ser maior. Não me encontrava à beira de uma falésia, nem perdido numas dunas, nem embrenhado numa floresta. Não estava em nenhum lugar paradisiaco daqueles em que se deseja acordar. O frenesi das pessoas era grande. A indumentaria denunciava a condição de banhistas que ultimavam os preparativos para descer as arribas em direcção à praia. Aos poucos reconheci o atlântico ao fundo e as cores verde e amarelo do logotipo da BP em primeiro plano na frente dele. Ironico ou talvez não perder-me na tasca de outro.
Assim que fiz intenção de avançar com o carro, um turista acompanhado da sua prole, gesticulava na minha direcção. Admito que ele tivesse proferido algumas frases de aviso mas o volume do auto-rádio hipotecou as minhas hipótese de o ouvir. Contudo, algo me fez parar. A minha visão ainda estava turva. Lembrei-me, então, que me faltavam os óculos. Imaginei como duro seria a vivência dos nossos antepassados que não puderam usufruir da evolução técnica que nos proporciona todos estes artefactos protésicos. Imaginei o pneu do veículo a esmagar a frágil armação. Saí. Corri em volta do carro que nem um louco. Finalmente o homem explicou-se! Tentava que eu não passasse por cima de um garrafa de super bock. Fiz questão de lhe agradecer mas a desarticulção dos sentidos para com o meu cérebro fez com que a minha boca se quedasse pelo silêncio. Fiquei aliviado mas continuava sem os óculos. Já quase desistia da minha busca, desgovernada, quando finalmente encontrei as lentes dentro do automóvel. O conjunto parecia intacto. Não me recordo da viagem até casa. Só, vagamente, de ter parado na mougueta porque o rádio se tinha calado. A próxima memória é a do hálito quente da sheriffa nos meus ouvidos propondo-me o almoço. Tinha acabado de chegar de viagem. Fiquei feliz por tudo regressar a normalidade mas infeliz também. Por mais anos que passem não consigo separar-me do cordão umbilical que me liga à adolescência. Tretas de devemos manter-nos jovens para sempre à parte, já tenho idade para ter juizo. Vou repetir em breve.
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