Quando a ordem é injusta, a desordem é já um princípio de justiça.

03 setembro, 2006

Quando o telefone não toca - Histórias de uma cidade

O grupo reuniu-se à entrada do hotel. Fazia muito tempo que não se viam. Depois da formação profissional cada um tinha seguido o seu destino. Ele continuara a pensar nela, de tempos a tempos, mas não se sentia à vontade para se expor dessa forma. Afinal ambos eram casados. Quando se encontraram, ele teve dificuldade em falar. Ela estava simplesmente fabulosa. Seria possível ele ter-se esquecido de como ela era bela?
Todos concordaram que tinha sido uma excelente ideia proporcionar aquele reencontro. O organizador do evento não escondia o orgulho e o sorriso estampado no rosto fazia-o parecer mais novo. Ele, contudo, nem se apercebeu disso. Todos os sentidos estavam demasiado ocupados, instruidos pelo cérebro para se fixar nela. Os olhos seguiam-lhe os movimentos como os olhos de um falcão marcam a sua presa; o nariz absorvia aquele aroma doce e discreto próprio das deusas do seu imaginário; os ouvidos estavam alerta, perscrutando no frenesi de vozes misturadas, o som limpido e agudo das frases por ela proferidas; O tacto perdeu a sensibilidade quando ele lhe tocou as costas enquanto trocavam um cumprimento, os ombros descobertos envolveram as sua mãos e o registo ocupou toda a actividade cerebral por longos minutos; a boca salivava com a mesma intensidade com que o cerebro fazia intenção de beija-la.
Toda a noite a conversa foi formal. Falaram-se das perspectivas profissionais, do patamar de qualidade de vida alcançado, da vida familiar. Foi a conversa esperada de um grupo de pessoas cujas afinidades se prendiam com aspectos profissionais. Pessoas que conseguiram, no entanto, que a admiração entre elas pudesse crescer para uma sólida amizade. Contudo nunca houvera o tipo de intimidades com que ele sonhava à noite, quando a luz da mesa de cabeceira vizinha finalmente se apagava.
Ela mostrou intenção de deixar o hotel. Afinal de contas o marido tinha chegado para a levar de regresso a casa. Ele ficou infeliz. Ela era a principal razão porque ele tinha adiado a escritura da casa nova para estar ali.
Antes da despedida formal ela pediu-lhe o contacto telefonico. Naturalmente trocaram os numeros. A principio ele achou tudo isso normal. Afinal eles conheciam-se. Fazia todo o sentido trocar os contactos. Mas ela podia sempre ligar-lhe para empresa ou procurar o numero de casa nas listas telefonicas. Porque quereria ela o seu numero pessoal?
Ele aguardou por um telefonema que nunca chegou. Continua a espera. O reencontro acontece, anualmente, e ele, sempre, à espera que o telefone toque e seja dela, a voz no outro lado.

4 comentários:

Trilby disse...

Enquanto não toca a imaginação flui, se tocar pode ser o fim ou um princípio. :)

Anónimo disse...

oi xerife...tentei deixar um comentário no outro blog mas ñ consegui!!!!vc ñ deixou rsrss...bjs

FireStarter disse...

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www.brenharder.no.sapo.pt

Anderson disse...



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