Não acredito no desemprego. É um mito. É verdade que se abrirmos os correio da manhã nas páginas dos classificados só se encontram anuncios para vendedores e prostitutas. No entanto eu não sei o que significa estar desempregado e, por issso, porque não sou mais nem menos que os outros, não acredito que uma coisa que não existe para mim exista para eles.
Eu estava em casa, gozando ociosamente o meu dia , quando me chamaram para o meu primeiro emprego. Tinha desistido da escola naquele verão e ainda não tinha mexido uma palha à pocura de emprego. Foi fácil. Naquele dia o telefone tocou e, do outro lado, um grande amigo meu disse-me: Pah, tás desempregado (o que tecnicamente estava errado, um gajo para estar desempregado precisa de ter estado antes empregado) o meu pai diz que precisam de um gajo lá na sicasal e tal... Aceitei! Fui lá, estávamos em Dezembro. Primeiro de Janeiro e começava a minha primeira aventura profissional. Os primeiros quatro meses passei-os na fábrica, suando as estopinhas para que o fiambre aparecesse todo bonitinho nas montras frigorificas dos hipermercados. Já estava planear fazer o funeral ao meu relacionamento com a sicasal quando me propuseram que eu passasse para administrativo. Aceitei! Depois passaram mais 6 anos. Um dia resolvi despedir-me. Entreguei a carta e durante dois meses, que a lei prevê que o empregado deve dar ao patrão para que possa contratar uma pessoa que o substitua, nem foi preciso procurar muito. Apareceu outra oportunidade, a de trabalhar lá na tasca. Era mesmo o que eu estava à procura. Ainda acumulei os dois trabalhos durante algum tempo. Depois veio o ano lectivo matriculei-me e conclui o secundário, entrei para a escola náutica, desisti do curso, mas sempre mantive o bules la na tasca e, durante as férias, ainda me chamaram lá da sicasal para eu ir fazer uma perninha durante dois meses. Como o salario não dá para o gasto (ou vice versa nem sei bem), resolvi que preciso de outro emprego. Recusei um, quando já estava quase tudo acertado renasceu em mim a esperança de conseguir conciliar a vida de sheriff com os estudos e voltei atrás, e trabalhei uma semana e meia noutro, mas acabei por desistir porque não era compativel comigo. Daqui a umas horas vou a uma entrevista para outro. Desta forma não me falem em desemprego. O que é verdade é que há muito poucos bons empregos. Que há maus patrões. Que o fundo de desemprego é de fácil acesso. Agora desemprego??? O que não falta aí é trabalho para fazer. Aos desempregados só digo duas coisas: Ou és esperto, não gostas de trabalhar e viver do fundo de desemprego não te provoca problemas de consciência, preferes usar o sistema em teu proveito em vez de combatê-lo para o proveito de todos, e vais-te safando, se calhar até fazendo um biscate aqui e ali livre de impostos e, talvez ainda, ganhando mais do fundo desemprego do que muitos que trabalham. Ou és parvo, ainda não abriste os olhos, vives iludido em arranjar um emprego que se enquadre na tua vocação ou formação académica, não abdicas do teu look alternativo que te fecha a porta deste país conservador, ou achas que os salarios são demasiados baixos mas ainda não percebeste que não há número menor que zero. Eu adorava ter um trabalho que realmente me apaixonasse, um trabalho que desempenhasse com excelencia e profissionalismo, um trabalho onde o meu desempenho fosse recompensado e reconhecido. Há falta disso contento-me com um emprego onde o patrão não falhe com o pagamento para eu não falhar com os meus credores. Posso ser um grande urso mas sou um urso de consciência limpa e que suou todos os cêntimos que gasta. Para rematar, quero só que saibam que poucos saberiam sobreviver na selva de cimento sem um tostão como eu, não o faço, nem me estou a ver a fazê-lo nos próximos tempos, porque assumi compromissos na minha vida que tenciono honrar. Porque cresci a aprender que os compromissos são eternos.