Quando a ordem é injusta, a desordem é já um princípio de justiça.

13 junho, 2006

Não ou a tarefa inglória de educar!

Na sexta feira passada, o técnico que nos deu formação nas nuvera decidiu incluir, no meio das suas disertações sobre xerografia, corotrons, etc, uma curta aula de pedagogia. Creio que foi uma estratégia para não ser terrivelmente maçador uma vez que as suas tiradas humoristicas pareciam importadas de um episódio dos malucos do riso. Dizia ele, a propósito dos pais de hoje, que não se sabe dizer não aos miúdos. Não é não, ponto final. Não precisa de fundamentação, argumentos, justificações. Deste modo eles perceberão o que significa e quando se lhes diz não entendem de imediato a mensagem. Do mesmo modo que um dia que eles digam não saberão que não é não, ponto final.
Ontem na tasca lembrei-me deste apontamento. Entrou um pai orgulhoso com os seus dois rebentos. O mais velho agarrou uma embalagem com dois donuts com creme por dentro e por fora (do donut entenda-se que a tasca é um estabelecimento asseadinho) e disse ao pai: quero! O pai disse-lhe mas filho tens bolos lá em casa... Bem, o puto acabou por levar aquela porcaria. O mais novo começou a berrar porque queria um chupa. Tirada do paizinho: O sr. não vende chupas e se choras chama a policia... Pois, o sheriff é que paga as favas. O puto meio convencido, meio resignado lá baixou as armas e os três lá foram à sua vidinha.
Um chefe meu dos tempos da salsicharia tinha uma outra técnica. Sempre que a filha lhe pedia alguma guloseima ou coisa do género perguntava-lhe: Tens dinheiro? O pai não tem dinheiro tu tens? Claro que a miuda não tinha e acabava por se resignar. Mas quando tiver... Não vai haver limite de crédito que a segure.
Para mim nem tanto ao mar nem tanto à terra mas, embora as minhas memórias dos tempos de criança sejam parcas, não me lembro de andar a pedinchar à minha mãe pelo quer que seja. Sabia bem até onde podia ir. Sabia perfeitamente que uns ténis de seis contos (sim porque naquela altura uns all star custavam aí uns 4 contos, os mesmos que hoje podem custar 60 euros) eram uma ilusão no meu guarda roupa a menos que houvesse algum jogo de cintura da minha parte. Mas nunca faltou comida no frigorifico, nem doces para matar a gulodice, nem brinquedos ou livros para ler. Acho que todos os pais acabam por falhar num ou noutro ponto mas não sei se compensar a austeridade dos nossos pais com permissividade para com os nossos filhos os torna mais fortes. O que eu sei? Que a boa educação é, cada vez menos, requisito para a convivência social.

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