Quando a ordem é injusta, a desordem é já um princípio de justiça.

18 março, 2006

Quem empresta não melhora

Hoje lá na tasca foi um dia dos diabos. Não que eu acredite no mafarrico mas as expressões do povo têm uma musicalidade muito mais interessante que algumas obras de primas de alguns poetas assim como, muitas vezes, a sabedoria popular leva vantagem sobre as ideias de alguns intelectuais.
Eu sou um grande parvo. Admito-o. Por várias razões. Para o caso importa que sou um gajo que gosta de ajudar. Mas um gajo que se predispõe a ajudar acaba por perder mais do que ganhar. Hoje estava inesperadamente bem disposto. A minha tarde tinha sido bastante agradável, apesar da chuva. Quando o relógio uniu os ponteiros no número doze estava preparadissimo para abandonar o estaminé. Duas tempestades ocorreram em simultaneo, uma trovoada de arrepiar os pelos do peito e uma chuva de clientes de ultima hora. Como ja sei que 99% dos atrasados olha desconfiado para a maquina multibanco que permite que as bombas funcionem 24 horas fui deixando o pessoal abastecer, vendi mais uns maços de tabaco, um cafe, uma caixa de preservativos, um ou dois red bull, enfim, os bens de primeira necessidade aquela hora. Quando a confusão parecia amainar aparece-me uma cenourinha de tenra idade em pânico porque tinha ficado sem combustivel a 100 metros dali. Arranjei um garrafão de 5 litros para que a menina pudesse levar o liquido precioso, ajudei-a a abastecer porque ela estava nervosa demais para o fazer e ainda, parvo, emprestei-lhe um funil para que pudesse resolver o problema com facilidade. Só quem ja ficou sem gota (sim que eu sou um gajo moderno e sei dizer as palavras da moda) sabe a utilidade de um funil numa hora destas. Recomendei-lhe que me devolvesse o funil porque ele esta ali para desenrascar os desprevenidos. A menina pagou e disse que eu podia ficar descansado que ela viria logo devolver-me o funil. Entretanto fui terminando os meus afazeres acabando por sair mais tarde que o normal. É o que se ganha em ser parvo. Pois bem, o tal funil não regressou à base. Acho que é preciso uma grande cara de pau para deixar pendurado alguem que se prontifica a prestar auxilio. Mas enfim este é o mundo que temos e as pessoas que nele vivem. Eu gostava de conseguir agir assim mas tenho consciência. Mas não lucro muito com isso. Lembro-me uma vez que fiquei naquela rotunda de sintra, ao pe dumas bombas, empanado no velhinho alfa romeu, e que um bate chapa que estava no petisco ali perto (não era tão perto como isso) com uns amigos me emprestou, sem me conhecer de lado nenhum, umas chaves sextavadas. Desempanei o bólide e claro, como tenho consciência, devolvi as chaves. Fiquei grato. Mas cada vez há menos parvos como ele e eu. Porque será?

5 comentários:

Trilby disse...

Vais ver que a cenourinha ainda passa por lá outro dia a devolver o funil. Pode muito bem ser que a menina estivesse muito atrasada e resolvesse devolver o funil outro dia. Eu sou como tu. Acredito no Pai Natal. E olha que por vezes ele aparece mesmo. :)

Anónimo disse...

Pessoas como tu, eu e outros que por ai andam que teimam em ter consciencia, somos da tal geração rasca...
Especialmente o pessoal mais novo (80% ou mais) nem pelos pais tem respeito quanto mais pelo mitra q trabalha na bomba de combustivel.... TÁS LÁ É PARA SERVIR....


PS- O dia do alfa foi memoravel....

Alxarife disse...

A menina Trilby tem razão. Hoje quando cheguei a tasca o funil estava lá. Não que desculpe a cenourinha 100% mas mais vale tarde que nunca.

Trilby disse...

:)

Anónimo disse...

Isto é um ciclo vicioso, o bem às vezes leva a fazer bem outras nem por isso, o mau leva a fazer mal... é pena que as boas atitudes nem sp dão a volta a esse ciclo e tornam a quem as tomou. Por mim, vou acreditando que ainda há gente boa... se isso se acabar, acaba tudo!Acredita... euvoyeur.blogs.sapo.pt