Naquela cidade havia um homem de idade avançada e conhecimentos vastos. Era notado pela sua inteligência mas sobretudo pela sua capacidade de memorizar o conhecimento. Como já estava a ficar velho decidiu entregar o seu legado. Como não tinha descendencia aperfilhou um menino de rua. Procurou o mais vivaço, acolheu-o, deu-lhe carinho, alimentou-o e acima de tudo ensinou-o. O menino aprendeu a matemática de Pitagoras e Descartes; a fisica de Newton e Einstein; a quimica de Lavoisier e Mendeleev; descobriu a origem do mundo com Darwin; viu os astros como Galileu; aprendeu a falar inglês com Shakespeare; filosofou como Platão e Kant; debateu-se de ideais politicos com Karl Max; desafiou a arquitectura de Rafael.
O menino estava maravilhado com as portas que lhe abriam. Um dia o sábio encontrou-o triste. Aparentemente o menino sentia-se incapaz de armazenar mais conhecimento. O ancião estendeu-lhe um caldo quente e explicou-lhe: Esta é uma poção mágica. Não mágica do ponto de vista sobrenatural mas uma poção medicinal mágica. Permitirá que o teu cérebro fique ávido de saber e não conhecerás limites para o teu conhecimento. Ensinar-te-ei a fazê-la. Precisamos de uma folha de uma planta rarissima da qual apenas tenho conhecimento de um único pé.
O menino era agora feliz. Tomava a poção e aumentava o seu saber. Recitava poetas de cor, conhecia todos os textos sagrados de todas as religiões, conhecia a história de todos os mundos, sabia identificar todas as espécies, calculava mentalmente o mais dificil problema da fisica ou da matematica.
Começou a frequentar as festas da alta sociedade para as quais era muito solicitado. Maravilhava as jovens com a demonstração da sua sabedoria. Ele exibia-se e sentia-se vaidoso.
De dia para dia aumentava a sua obsessão pelo saber e sem dar conta consumiu a planta ate à sua ultima raiz.
A partir desse dia e sem a ajuda da poção não conseguiu nunca mais aumentar o seu conhecimento. O sábio agastado pela idade e infeliz com o sucedido desistiu de lutar pela vida. Toda a dedicação de uma vida centenária destruida pela vaidade e pelo egocentrismo. Ele que tinha confiado o seu legado da mesma forma que os antepassados lhe haviam deixado via agora o fim. Suspirou triste antes de morrer.
Revoltado com a sua imprudencia o menino, agora homem, usou das suas influencias junto da alta sociedade para obter o maximo de papel e tintas possivel. Foram dizimadas florestas, multiplicaram-se as plantações de canhamo para que nunca lhe faltasse esse precioso bem. Passou o resto da sua vida registando no papel todos os conhecimentos que tinha obtido para que todos pudessem aceder a ele. Quando completou o indice de tão vasta biblioteca escreveu: Desprezo o poder do conhecimento para a humanidade quando usado com cega ambição e vaidade.
2 comentários:
Cannabis Sativa (e não Cânhamo) ou então opiáceos com forma e cor de farinha.
Benvindo caro Edson e obrigado pela correcção. Uma falha indmissivel que revela a minha falta de expertise na matéria. Abraço
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