Quando a ordem é injusta, a desordem é já um princípio de justiça.

16 janeiro, 2006

Porque o homem sonha (Homenagem a Thierry Sabine [1949-1986])

Ainda que não seja grande adepto dos desportos motorizados nem do todo o terreno não posso ficar indiferente ao rally que ontem terminou em Dacar. Apesar da grande máquina de marketing que envolve o evento, o rally Lisboa-Dacar é aventura na verdadeira acepção da palavra. É um desafio ao homem, desafio que alguns aceitam sabendo o risco elevado de não terminarem a empresa com vida.
Para o bem ou para o mal, foi o espirito aventureiro da espécie humana moderna que uniu os continentes que a natureza tentou separar. O Dacar e o seu mentor, Thierry Sabine, personificam esse espirito. Segundo reza a lenda Sabine idealizou o Dacar quando, em 1977, se perdeu no deserto Libio durante o rally Abdijan-Nice. No ano seguinte sairia a primeira edição do Dacar de Paris. Sabine sacrificou o resto da sua vida dedicando-a ao rally. Morreria em 1986 numa acidente de helicoptero durante uma tempestade de areia tentando resgatar participantes tresmalhados.
A história conheceu, desde sempre, dois tipos de sonhadores: Os, que como Sabine, têm um sonho pelo qual estão dispostos a morrer e os outros que estão dispostos a que a humanidade morra pelo seu sonho. Aos primeiros concedo o estatuto de verdadeiros mártires (ou heróis se preferirem). Muitos são os que sacrificaram a vida, pagando ou não com a morte, para que a espécie humana atingisse um patamar de excelência cada vez maior. Contrariando esta tendencia continuam os senhores que mantêm os instintos animalescos fortemente vincados e destroem o planeta a toda a escala ambicionando poder, território e dominância. São estes os verdadeiros tiranos que se comportam como um macho dominante numa comunidade de felinos. Defendem o seu território, exercem o poder, exploram os restantes membros. Sacrificam todos em prol do seu sonho. Se estes usassem a sua força e ambição em beneficio de toda a espécie obteriam mais vantagens não só para eles como para os seus semelhantes. A excelência da humanidade enquanto espécie passa por aí. A questão da sobrevivência de uma espécie em relação ao meio ou às outras espécies é menor quando essa espécie se auto destrói diariamente.
Um dia, quando a humanidade entender a irracionalidade das disputas que trava entre si, talvez seja ja tarde demais. Nessa altura recordar-se-ão os mártires, como Sabine e outros, que viveram e sacrificaram a vida a realizar o sonho de uma vida.

3 comentários:

Kata disse...

Excelente leitura! Parabéns!

Rumbo disse...

Grande visão, amigo. Fazer justiça a quem merece não está ao alcance de todos. Obrigado pela lição.

Anónimo disse...

Oi...tenho uma sugestão, pq não fala um pouco de amores não vividos, de sonhos não realizados...
beijos!!!!