Estava uma tarde de agosto, o calor sufocava. Os cigarros desagradavam-me cada vez mais ao palato à medida que as horas passavam e o meu dedo polegar, apontado ao céu, parecia cada vez menos apelativo à medida que os automóveis passavam.
Já tinha reparado nele, sentado no banco da paragem do autocarro, aproveitando a sombra. Era baixote e tinha a aparência bem cuidada, no entanto, o grosso fio de ouro e os cachuchos nos dedos davam-lhe um ar parolo. Foi ele quem meteu conversa:
- Está dificil apanhares boleia!
- É verdade, isto já não é como dantes. A malta tem medo.-Respondi apesar de meter conversa com aquele tipo ser a ultima coisa que me apetecia no momento. O que eu queria era uma cerveja gelada.
- Sabes eu sou modelo. - Continuou ele. - Faço fotos eróticas. O meu último trabalho foi na Suiça. Lá no meio da neve, nos Alpes. Sabes onde é?
- ahan - Acenei afirmativamente.
- Foi uma grande treta. Aquele frio todo nem o conseguia pôr de pé. Aquilo era para um revista gay. Faço muitos trabalhos para as revistas gays.
Entretanto ambos avistámos o autocarro no fundo da rua.
- Ah! Já lá vem o autocarro, finalmente, já estava a derreter com todo este calor. Vens?
- Népia, não tenho guito.
- Anda eu pago.
- Népia, não é preciso.
- Deixa-te disso, os gajos pagam-me bem.
Lá aceitei. Entrámos e sentámo-nos a meio do autocarro.
- Eu não sou gay. Mas faço trabalhos para as revistas gay. Também faço filmes porno. Mas esses só com mulheres. - A conversa continuou enquanto a viagem prosseguiu. Mantinha-me calado enquanto o meu companheiro de viagem acidental continuava a desvendar o mundo dos profissionais da exibição pornografica.
- Muitos dos gajos enchem-se de viagra senão não conseguem. Eu não. Tenho um bom desempenho. Esses gajos chegam aos 35 anos e não têm hipótese de continuar. A bomba dá cabo deles. - And so on and so on. Finalmente o autocarro chegou ao nosso destino.
- És daqui? Eu sou filho do Tavares, conheces?
- Eh pá, não! Eu não sou de cá. - Menti eu. - Só vim aí cumprimentar um amigo, beber uma cerveja e assim.
- Pois, eu raramente cá venho. Só vim visitar o velho.
- Eh pá, tenho mesmo de ir. Obrigadão pelo bilhete do autocarro.
- Eh pá isso não foi nada. Até uma próxima. Fica bem
- Tchau pá.
Não houve uma próxima. Nunca mais o vi.
3 comentários:
Atéquinfim! Havia aí um maldito porteiro à entrada desta cidade que me queria impor uma lei, livra!!
Confessa lá, não tiveste receio que o tipo te tentasse obrigar a pagar o bilhete em géneros? :)
Não tive receio mas confesso que essa ideia me cruzou o espirito.
cofessa... ao fiz destes anos todos ja tens saudades dele.... nunca mais escreveu, nem ligou... possa!!!!
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