Quando a ordem é injusta, a desordem é já um princípio de justiça.

14 fevereiro, 2006

Naquele belo país onde o bandido pobre é preso e o bandido rico é presidente da câmara.

Estou preocupado! Fiquei ontem a saber que encaixo no perfil do pirata informatico. A verdade, é que utilizo a pirataria, não com fins comerciais, mas para ter acesso à cultura a um preço acessivel. Há muito tempo que não compro um cd de musica original ou um dvd. A musica que oiço vem quase exclusivamente dos P2P e os dvds compro na feira da Malveira gravações manhosas a 5 € cada três. A questão é que não tenho muita escolha. Vamos dissecar então o orçamento do tal pirata informatico que encaixa no perfil ontem avançado na tv. Jovem do sexo masculino até aos 29 anos... 600 € por mês de salario, 350€ de renda de casa, 25€ para a electricidade, 10€ para a agua, 15€ para o gas, 200€ para a prestação do carro (ja esta a zeros), 500 € vencimento do companheira, 150 € para combustivel, 200€ para o supermercado, 50€ para a farmacia, 60€ para o adsl e telefone, ainda sobram 40 €. Ora 40 euros dá para comprar 3 livros ou cds, ou 2 dvds. Parece-me bem que os 35 euros gastos na banda larga são um bom investimento.
Daí que não tenho pudor nenhum em atentar contra a propriedade intelectual de ninguém. Até porque o meu orçamento é mais reduzido que o acima descrito. Quando vejo uma rusga como a de ontem no martim moniz fico apreensivo. Fico a pensar quando será o dia que os goes entram pela minha casa a dentro para confiscar os meus mp3, os dvds piratas ou os home movies da vizinha da frente. Ou qual é o dia em que a BT vai implicar com as cópias de cd que tenho no carro. Ou quando a PJ vai confiscar o meu pc pela participação nos P2P.
Sei bem que a questão das economias paralelas não tem contornos tão simples quanto isso. Sei perfeitamente que a produção de produtos contrafeitos está muitas vezes associada à mão de obra escrava. Mas na selva capitalista sobreviver é preciso. A cultura não deveria ser um luxo a que só alguns podem aceder confortavelmente. Mas para que os isaltinos, felgueiras e loureiros deste país não fiquem a coçar as fartas barrigas regozijando enquanto o povo que os elegeu assiste alienado a mais um reality show, eu utilizarei as armas que entender para usufruir das coisas.

5 comentários:

Anónimo disse...

Concordo contigo a 100% meu bom amigo, só uma coisa me deixou muito chateado.... a tua vizinha da frente faz home movies e tu nao me dizes nada?!?!?!?!?!?!?!?!?!?

Magoas-me!

Diego Armés disse...

Concordo. Isto embora me pareça que, a uma escala mais larga, existe um elemento injustamente prejudicado: o autor. A sua quota de lucro por cada produto vendido já é reduzida e se o mercado reduzir as vendas (esta situação num circuito dito alternativo ou underground é particularmente grave, pois as vendas já são, à partida, reduzidas) as editoras reduzem nos artistas (o mexilhão é que paga sempre, já se sabe). Agora, isto é mais em relação à música. Quanto ao resto, cada um que puxe a respectiva brasa.

No mercado português, acho que, ao contrário dos mega-mercados americano ou britânico, a pirataria pode ser o próprio motor e, em última análise, a tábua de salvação - do ponto de vista do autor, claro está. Isto porque uma banda de 2ª linha (digamos com álbuns editados mas sem serem estrelas) não fará certamente fortuna com os discos vende, mas antes com os concertos que dá. E não há melhor meio de divulgação para uma banda do que o seu som ser pirateado, passado de mão em mão, escutado pelo maior número possível de pessoas. Por mim, fazia edições a custo de produção: se um CD sai a 3 euros (por exemplo...) por peça, mais 50 cents. de distribuição, ponha-se o produto à venda por 3,50 euros. Ninguém fica a perder com o negócio, antes pelo contrário. E, deste modo, o próprio consumidor não terá os mesmo motivos para piratear, uma vez que não é escandalosamente roubado (20 euros por um CD de 40 minutos e 10 músicas?!?! Isso é sodomia...).

Isto é: não concordo com a pirataria. Mas, no caso, é amplamente justificada. A culpa não é de quem pirateia, é de quem faz os preços. Reduzam os preços, estimulem as compras e verão o crime pirata a descer em queda livre.

Mas, claro, já me esquecia: e depois o que aconteceria ao mercado dos DVDR e CDR?... A tecnologia precisa de escoamento.

zamot disse...

Parece que numa mega operação stop no ano passado, numa sexta feira de madrugada em que todas as saidas de lx e consequentemente todos! os carros que sairam de lx foram parados (o transito da ae foi desviado para uma estação de serviço), foram apreendidos muitos bebados, muita droga, faltas de documentos e muitos, mas muitos cd´s e dvd´s gravados. Isto veio nas noticias. Arte Livre!

Alxarife disse...

guitarrista - concordo e concordo com uma unica nuance que eu sou a favor, não da pirataria, mas da arte livre. E sim o verdadeiro ganha pão do artista deve ser a sua performance publica. Imaginando que um pintor ocupa dezenas de telas com a cópia da mesma tela?? Não faz sentido. E as reproduções da tela em posters ou la como for terá de ser forçosamente barata. Não sei até que ponto é proibido disparar uma foto para fazer um cópia. Mas como ele ve compensado financeiramente o seu génio? Vendendo o original para um museu por um balúrdio onde as pessoas pagam para o ver exibido. Numa sociedade perfeita que tu chamarias de utópica nem se poria esta questão financeira, mas vamos manter a conversa nestes termos.

zamotanaiv - Obrigado pela sua visita à cidade. Espero que goste da hospitalidade e que regresse.
Quanto às operaçõe stop vou contar uma deste fim de semana. Passava por Mafra com uma amiga minha ao volante. Parava tudo. E lá estávamos nós Ela loura (um ganda naco, desculpem la a vulgaridade mas eu sou um gajo vulgar) e sem seguro, noutro carro Ele um qualquer com uma vida sem muito interesse e uma bebedeira do caraças. Só um ficou lá e nem preciso dizer qual foi.

Alxarife disse...

ERRATA

no comentario acima onde se le:"dezenas de telas com a cópia da mesma tela??" dever-se-á ler "dezenas de telas com a cópia da mesma pintura??"