Quando a ordem é injusta, a desordem é já um princípio de justiça.

18 maio, 2006

Sejam vencedores!

No clube onde o sheriff anda na natação há uma classe de competição, mas com putos mesmo pequenos. Seis ou sete anos os mais novos. Eu acho bem. Os atletas de alta competição têm começar novinhos. Lá diz o povo de pequenino é que se torce o pepino. Cabe aos pais terem a felicidade de acertar no desporto mais adequado e que deixe os filhos mais felizes. Mas isso dava pano para mangas, as decisões que os pais tomam por nós até (e durante) termos capacidade de fazer as nossas próprias escolhas. Hoje, no fim da aula, os míudas e miúdas fizeram uns sprints ao despique. Um paizinho que foi dar banhinho ao puto quis saber. Ganhaste o teu sprint? Coisa que não tinha acontecido. O pai logo remendou. Isso não interessa, o que interessa é nadares bem. Eu não percebo nada de pedagogia mas nunca ensinaria um filho meu assim. Num mundo cão como este é claro que pouco importa nadar ou fazer o que quer que seja bem. O que importa é ganhar. Não é estudar bem que nos abre as portas da faculdade. É ter uma classificação melhor que os outros. Não é trabalhar bem que nos coloca num bom emprego. É ganhar a preferência do empregador, nem que seja com cunha ou com mentiras. Não é namorar bem que convence as miúdas é ganhar no prestigio e na popularidade. Um filho meu seria instigado a ganhar e a viver para ser um vencedor. Não para ser bom. Porque além do mais ninguém é bom em tudo mas um vencedor vence sempre. Na minha fugaz passagem pela nautica tive um professor de análise matemática que era muito bom. Especialmente em quimica, onde ele era, de facto, um fora de série. Mas um vencedor? Um gajo a chegar aos 60 anos com a vida social e afectiva reduzida à mãe com quem ainda vivia uma vida dedicada a ajudar a formar oficiais da marinha mercante não me parecem conquistas de um vencedor.
Eu até percebo este pai. Quer que o filho viva a infancia sem pressão, evitar os complexos de inferioridade, essas coisas. Mas pergunto-me, será esse o caminho que vai fazer o puto feliz? Quando eu também era puto o meu desporto era o futebol. Jogava aqui no ACM. No verão havia sempre um torneio de futsal para camadas jovens aberto a toda a gente. O ACM formava duas equipas, o GDVP também e apareciam mais umas quantas. Entre os dois primeiros clubes disputavam-se as vitorias no torneio em todos os escalões. Houve um ano que eu e mais alguns miudos, quase todos renegados dos seus clubes por uma ou outra razão, acabamos por participar como outsiders. Tinhamos uma equipa fortissima. Contra tudo e contra todos acabamos por ganhar o torneio. Na cerimonia de entrega de premios o discurso dos organizadores era que o objectivo era o convivio, o desporto, o lazer, trazer a comunidade para junto dos jovens e tirar os jovens dos caminhos errados, não interessava os resultados desportivos, que eramos todos campeões, etc. Um pouco como o pai daquele miudo estes senhores protegiam os seus pupilos da derrota. Ou pelo menos tentavam. Porque ao recebermos as medalhas, todas iguais, eu sentia-me um vencedor e festejava ao passo que os outros tinham os olhos vidrados pelas lágrimas e o coração trespassado pelo sentimento de derrota. Ainda hoje é das coisas que mais me comove, seja onde for, é ver alguem vencer, a energia libertada mexe com o sheriff. Façam de vocês, e dos vossos filhos porque não, vencedores.

5 comentários:

paperdoll disse...

desculpa, mas concordo plenamente com esse pai.
nunca diria a um filho meu de seis anos que o mais importante é ganhar, porque no meu ponto de vista não é.
gostaria de o educar para ele ser o melhor que pode ser, para atingir o seu máximo, e não para ser necessariamente melhor que os outros.

se não tens filhos, imaginas-te a dizer ao teu filho que tanto se esforçou, que ganhar é o mais importante?

teria sempre orgulho num filho meu, se ele desse o seu melhor. não se pode exigir mais do que isso.
não ia gostar que ele crescesse com a sensação que nunca foi suficientemente bom para a mãe.
porque para mim ele vai ser o melhor. no matter what.

paperdoll disse...

"Não é namorar bem que convence as miúdas é ganhar no prestigio e na popularidade."

será? :p

continuo a não concordar mesmo nada!

Alxarife disse...

Parece que, pelo menos, a decisão que tomei de não ter filhos foi acertada. Onde eu queria chegar era que a soliedariedade paterna na hora da derrota não nos torna mais fortes para enfrentar uma sociedade onde a competição é tudo. Os que, como eu, estão-se nas tintas para isso, são os mais prejudicados. Porque pode haver um dia nas nossas vidas em que o orgulho dos nossos pais pode não ser suficiente para nos proporcionar a vida que desejamos e que eles, por certo, desejariam para nós.

Quanto ao 2º comentário se calhar foi ousado demais da minha parte falar de algo que pouco conheço. Mas nunca fui sondado para saber se beijava bem, se era romantico,ou se... (sei lá essas coisas que fazem parte de namorar) por nenhuma namorada ou candidata a... Se calhar é algo do conhecimento publico, mas eu sempre fui um homem muito reservado.

paperdoll disse...

acho que os putos têm tempo para aprender tudo sobre este mundo cão. com seis anos têm é que se divertir e má' nada!
se ganharem melhor, senão também não há problema.

quanto ao resto não sou a pessoa mais indicada para comentar...
mas digo-te que para mim "prestigio e popularidade" é nada.

Kata disse...

Caro Sheriff... espero que o teu post tenha uma ponta de ironia, porque caso contrario teria de escrever um blog inteiro so para te (tentar) fazer ver o quao errada esta a tua perspectiva (errada na minha perspectiva que obviamente nao tem de ser tambem a tua). ganhar aos 6 anos?? em plena formaçao corporal e pessoal, quando a actividade desportiva nao tem mais objectivos do que um bom desenvolvimento motor, criar habitos de saude, noçoes de etica e uma mente flexible e aberta perante as igualdades e diferenças desde mundo?? e no futuro, que interessa ao mundo os competidores de alto-rendimento? perde-se uma pessoa para ganhar um atleta? o desporto antes de campeoes ajuda a criar cidadaos. e disso que se trata, o resto vem por acrescimo. e se houver tambem nao e mau... mas a especializaçao precoce esta provado que nao faz bem a ninguem. nadia comaneci's e demais companheiras das crises de adolescente que os digam, independetemente de terem as suas maos doentes marcadas em forma de medalha num qualquer passeio da fama.

Depois ha outra questao, ninguem poe em causa que quem participa numa competiçao quer ganhar. e acho bem. mas serao esses os propositos de quem a organiza? talvez nao... e talvez o facto de te teres juntado com um grupo de renegados e teres ganho o torneio seja a maior liçao de que dai podes tirar, isto e, nao ha competidores melhores que outros, ha uns que se esforçam mais ou que tem uma coisa porque lutar.

entre outras coisas.

um abraço.

nao tarda volto ao mundo dos blogs, talvez ate para recomeçar com um post em resposta a ti.

e sempre interessante discutir.

ps: o pai ao começar por perguntar se ganhou o sprint escusa de afirmar que importante e nadar bem. ja disse tudo. esse miudo ja sabe que para o pai ele TEM de ganhar. e se nao ganhar? ai sim sera frustrado... e se ganhar? ganha o q? uma medalha? ahahaha

ps2: creio q a questao nao e ser-se competitivo na nossa sociedade. e sim ter a flexibilidade necessaria para reagir perante qualquer vitoria ou derrota na nossa vida. os outros que se amotinem. nos somos apenas lutadores, que buscam o que e melhor para nos, sem prejudicar ninguem. o mundo so ganha com isso. e a vida nao dorme...